
Pedro Casassola
07 de Maio de 2025
Em The Tragedy of Great Power Politics, John Mearsheimer propõe uma teoria realista de grande impacto: o mundo está condenado ao conflito entre grandes potências. Segundo o autor, enquanto o sistema internacional for anárquico, a luta por poder entre potências será inevitável.
Mearsheimer chama sua abordagem teórica de realismo ofensivo. Trata-se de uma vertente dentro da tradição realista que defende que os Estados, especialmente as grandes potências, não buscam apenas segurança, mas máximo poder possível.
O objetivo final de cada potência é atingir a hegemonia regional — ser a mais forte de sua vizinhança — e impedir que outras potências façam o mesmo em suas regiões.
“The overriding goal of each state is to maximize its share of world power.” (p. 2)
Mearsheimer estrutura sua teoria com base em cinco premissas fundamentais sobre o sistema internacional:
Anarquia – Não existe autoridade central acima dos Estados.
Capacidade ofensiva – Todos os Estados têm algum poder militar.
Incerteza sobre intenções alheias – Nunca é possível saber com certeza as intenções dos outros Estados.
Sobrevivência como objetivo primário – Os Estados querem sobreviver no sistema.
Racionalidade – Os Estados são agentes racionais que calculam seus movimentos estrategicamente.
Diante dessas condições, Mearsheimer conclui que a melhor forma de garantir a sobrevivência é acumulando mais poder do que os outros.
Segundo o autor, a hegemonia global é inalcançável — nenhuma potência pode dominar o mundo inteiro, especialmente por causa das barreiras geográficas e da complexidade do poder militar. O máximo que se pode alcançar é a hegemonia regional, como os EUA alcançaram no Hemisfério Ocidental.
“No state is likely to achieve global hegemony, however, the world is condemned to perpetual great-power competition.” (p. 4)
Mearsheimer descreve quatro estratégias clássicas que os Estados usam para lidar com a ameaça de outras potências:
Balanço de poder (balancing) – Aliança para conter uma potência agressora.
Passar a responsabilidade (buck-passing) – Transferir o custo da contenção para outro Estado.
Envolvimento extrarregional (offshore balancing) – Estratégia dos EUA de intervir indiretamente em outras regiões.
Domínio por terra (land power) – O controle de território é a forma mais efetiva de poder duradouro.
O autor argumenta que as guerras entre grandes potências não são aberrações, mas consequências esperadas do sistema internacional. Mesmo com armas nucleares, as disputas por hegemonia regional persistem — especialmente em contextos multipolares.
“There are no status quo powers in the international system, save for the occasional hegemon.” (p. 3)
O livro apresenta uma série de estudos históricos — das guerras napoleônicas ao início do século XXI — para demonstrar como o realismo ofensivo explica o comportamento das grandes potências ao longo do tempo. Entre os casos analisados estão:
As guerras de unificação alemã (1860–1871)
A ascensão e agressividade do Império Japonês
A política de contenção dos EUA frente à URSS
O possível futuro confronto com a China
Mearsheimer dedica parte da obra a um alerta: a ascensão da China inevitavelmente levará a uma rivalidade estratégica com os EUA. Mesmo que a China se torne democrática e interdependente economicamente, a lógica do sistema pressionará ambas as potências ao conflito.
“China and the United States are destined to be adversaries as China’s power grows.” (p. 5)
A grande tragédia da política das grandes potências, segundo Mearsheimer, é que mesmo Estados que apenas desejam sobreviver são forçados a agir agressivamente. O sistema empurra todos os atores para um jogo competitivo, imprevisível e por vezes letal. A esperança de paz perpétua, para ele, é uma ilusão liberal que ignora os incentivos reais estruturais da anarquia internacional.