
Pedro Casassola
07 de Maio de 2025
Publicado originalmente em 1956, The Power Elite é uma das obras mais influentes da sociologia crítica norte-americana.
Seu autor, C. Wright Mills, professor da Universidade de Columbia, apresenta uma análise contundente sobre como o poder está concentrado nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos nos Estados Unidos – um grupo formado pelos líderes das grandes corporações, da alta cúpula militar e do aparato político nacional.
Este artigo explora os principais argumentos da obra, com base direta em seu texto original, e discute por que essa análise continua tão relevante hoje.
Segundo Mills, a elite do poder (power elite) é composta por homens que ocupam posições de comando nas principais instituições da sociedade moderna: grandes empresas, forças armadas e governo federal. Esses indivíduos não apenas têm autoridade institucional, mas também controlam recursos econômicos, militares e políticos capazes de moldar o destino da sociedade.
“The power elite is composed of men whose positions enable them to transcend the ordinary environments of ordinary men and women; they are in positions to make decisions having major consequences.” — The Power Elite, p. 4
Uma das contribuições centrais do livro é a identificação do que Mills chama de “o triângulo do poder”. Esse triângulo é formado por três esferas institucionalmente interligadas:
As grandes corporações – que dominam a economia e concentram riqueza e influência.
O complexo militar-industrial – cuja ascensão foi impulsionada pelas guerras mundiais e pela Guerra Fria.
A burocracia estatal – que se tornou cada vez mais centralizada e executiva no século XX.
Essas esferas, ao se entrelaçarem, formam uma teia de decisões estratégicas que escapam ao controle da população em geral.
Mills questiona se a democracia norte-americana é realmente democrática em sua prática cotidiana. Ele argumenta que, embora as instituições representativas permaneçam intactas, o processo decisório significativo está concentrado fora do alcance dos cidadãos comuns.
“They feel that they live in a time of big decisions; they know that they are not making any.” — The Power Elite, p. 5
O cidadão médio, segundo Mills, tornou-se espectador de decisões que afetam sua vida profundamente, mas sobre as quais ele não tem influência direta.
A elite descrita por Mills não é apenas funcional, mas também socialmente entrelaçada. Os membros da elite frequentam as mesmas escolas, casam-se entre si, participam dos mesmos clubes e compartilham visões de mundo similares. Essa homogeneidade social fortalece sua coesão e perpetua seu domínio.
Além disso, existe uma “intercambialidade de posições”: executivos corporativos tornam-se secretários de Estado, generais tornam-se consultores políticos, e políticos passam a integrar conselhos administrativos. Essa rotação naturaliza e reforça o domínio da elite.
Mills contrapõe a elite ao conceito de “mass society”, uma sociedade de massas em que os indivíduos são isolados, atomizados e cada vez menos engajados na esfera pública. Nesse cenário, a opinião pública se torna manipulável, e os cidadãos se afastam da política, abrindo ainda mais espaço para o predomínio da elite.
Apesar de escrito há mais de 60 anos, The Power Elite permanece atual. Em tempos de globalização, concentração de mídia, guerras por procuração e influência crescente de grandes empresas de tecnologia na política, a tese de Mills ganha nova vida.
Como bem observou Alan Wolfe no pósfacio de edição recente, a estrutura do poder mudou em suas formas, mas não em sua lógica fundamental: a concentração de decisões estratégicas em poucas mãos.
The Power Elite não é uma teoria conspiratória; é uma análise sociológica rigorosa baseada em evidências institucionais e empíricas. Ao descrever as engrenagens do poder nos EUA, C. Wright Mills nos oferece uma lente crítica para entender não apenas a política americana, mas qualquer sociedade moderna em que decisões cruciais são tomadas longe dos olhos do público.